-Ali está ele!!
-Não olhes, podes chateá-lo!
-Não parece assim tão perigoso...
-Aquele rapaz é um dos alunos mais temidos da Academia, correm por aí rumores de que anda metido em lutas de gangs...
-Eu ouvi dizer que ele consegue atirar um adulto pelo ar!
-Só isso? Dizem que é capaz de deixar alguém inconsciente com um único murro...
-Eh?! Isso é arrepiante...
“Tsch, digam o que quiserem. Não é nada a que não esteja já habituado, seja como for...”
O rapaz de cabelo revolto, apanhado atrás e de tom castanho-avermelhado soltou um breve suspiro e escolheu um pacote de sumo da máquina de venda na Sala de Alunos.
Os seus olhos verde-vivo foram desviados para uma jovem de longos cabelos loiros que tentava ignorá-lo a apenas alguns metros. Aparentava uns treze anos, três mais nova do que ele próprio.
Aclarou a voz e pensou em puxar conversa, mas algo o impediu. Quando voltou a olhar, já ela se afastava com as amigas.
“Não posso dizer-lhe assim, do nada... E agora, o que faço?”
-O quê, já vais para casa? Está tudo bem, So-chan?
-Estou só um pouco zonza... Por favor avisem o meu irmão de que fui para casa mais cedo. - A rapariga loira respondeu com um sorriso. - Não se preocupem comigo!
As outras jovens acenaram e ela avançou para fora da Sala de Alunos, respirando fundo com o vento a bater-lhe no rosto. Olhou em volta nervosamente, como que pressentindo que não estava sozinha no pátio, mas não viu ninguém.
De repente, uma fria mão encostou-se à sua cara e cobriu-lhe a boca, impedindo-a de gritar.
-Desculpa, vamos falar noutro sítio qualquer. - Ouviu uma voz suave dizer atrás de si. - Não te vou magoar.
A rapariga ofereceu resistência, mas em vão.
Sem ninguém nas imediações que pudesse vê-los, foi levada para um armazém abandonado não muito longe do edifício da escola.
Assim que sentiu afrouxar a força que a prendia, voltou-se rapidamente para o seu captor.
-Seu bruto!! O que é que queres de mim?
Durante um breve momento, ele pareceu estar à procura das palavras certas.
-Tenho de falar contigo, sem ninguém por perto. Isto vai parecer estranho, mas preciso da tua ajuda... Podes só ouvir-me, Kime Sochin?
-C-como é que sabes o meu nome... TENS ANDADO A ESPIAR-ME?!
-Acalma-te, por favor!! - Disse, tentando não a assustar mais anda. - Não sou nenhum tarado...
-Então és o que? Quero saber o que se passa aqui, JÁ!! - Gritou Sochin nervosamente.
-Tu consegues pressentir coisas que os outros não imaginam sequer, estou certo?
-... - Ela não foi capaz de proferir uma palavra.
-Não tens de responder, os teus olhos denunciaram-te. - Continuou o rapaz. - O meu nome é Seishin Kuroi, estou no segundo ano da Secundária. Mas acho que já deves saber isso graças à minha... reputação...
-Quem não sabe? - Respondeu ela, friamente.
-Estou a ver que não és de muitas palavras. Muito bem, vamos directos ao assunto... Queres saber mais sobre a tua habilidade, não queres? - Prosseguiu Kuroi, tentando ignorar a atitude da jovem.
-Não faço ideia do que estás a falar. Sou uma estudante igual às outras... Eu...
Ele sorriu e, de um gesto rápido, tentou acertar-lhe com dois dedos na testa. A rapariga enroscou-se, assustada, e as mãos de Kuroi foram imediatamente repelidas de volta por uma barreira invisível em frente dela.
-Ainda não é muito forte. - Disse. - Mas é de certeza absoluta aquilo que eu esperava de uma Medium...
-Uma... “Medium”? - Perguntou Sochin com uma voz hesitante, tentando não parecer demasiado interessada.
De repente, o som de um portão de metal ferrugento a ser arrastado interrompeu-os, seguido por uma respiração pesada.
-Solta-a... já...
-Nii-chan! - Gritou a rapariga.
-Huh? Quem és tu? - Perguntou Kuroi, voltando a por-se de pé e voltando-se para a entrada.
Um rapaz de cabelo claro, com a camisa do uniforme desabotoada sobre uma t-shirt, surgiu com um olhar desafiador. Era alto, mais alto mesmo que Kuroi, e bastante magro. Apesar disso, não parecia muito velho.
-Não tenho de te dizer o meu nome, despacha-te a soltar a minha irmã antes que eu a vá aí buscar com as minhas próprias mãos!
-Grandes palavras... Mas desculpa desapontar-te. Não tenho nada a tratar contigo, miúdo.
-Agora tens! - Respondeu o rapaz, correndo na direcção do mais velho com o punho esquerdo pronto a atacar.
Kuroi moveu-se para o lado sem esforço, agarrou a mão do atacante e deixou-o atirar-se para o chão.
-Nii-chan, estás bem?!
-Não me magoei... - Respondeu ele, voltando a erguer-se. - Não faço ideia do que se passa aqui mas vou fazer este gajo arrepender-se de se ter metido contigo...
-Aconselho-te que pares antes que sejas tu a ficar arrependido. - Disse Kuroi, apontando com a cabeça na direcção da entrada.
Um grupo de rapazes com uniformes diferentes dos seus surgiu pelo portão que o mais novo deixara aberto. Pareciam divertidos com a situação, e Sochin vislumbrou algo parecido com uma soqueira no bolso de um deles.
“Gangsters aqui? O que é que eu faço agora?”, pensou o mais novo, aterrorizado.
-Vocês os dois saiam daqui, rápido! - Ordenou Kuroi, colocando-se entre eles e o gang.
-Que adorável, o Seishin arranjou dois amiguinhos novos! Não nos deixas brincar também com eles, parceiro? - Disse aquele que parecia ser o líder.
-Eles não têm nada a ver com os teus joguinhos sujos!
O irmão mais velho agarrou Sochin pelo braço e tentou correr, mas ela estava petrificada com medo.
-Sochin, vamos! Isto não é problema nosso!!
A rapariga sacudiu a cabeça e lágrimas começaram a escorrer pelas maçãs do seu rosto.
-As minhas pernas... não... NÃO SE MEXEM!!
-FILHO DA MÃE, O QUE É QUE LHE FIZESTE?!
Kuroi nem teve tempo de responder. Um dos gangsters aproximou-se dos dois irmãos e retirou uma faca do bolso.
-Agora, vamos ver se estes dois têm alguma coisa de valor... Será que comece pela jovenzinha? - Disse este em tom cínico. O rapaz também gelou.
-Eu disse... ELES NÃO TÊM NADA A VER COM VOCÊS!!
Kuroi lançou-se como uma flecha na direcção do gangster e deu-lhe um soco pelo estômago dentro com uma desenvoltura surpreendente. Este caiu no chão, inconsciente.
Revoltados, os outros correram contra ele revelando toda a espécie de pequenas armas. Os seus olhos revelavam uma sede de sangue e violência que os dois irmãos nunca haviam visto.
Kuroi desviou-se dos primeiros ataques, foi atingido por outro de raspão e rodou sobre um calcanhar, afastando outro grupo de si com um chuto. Depois agachou-se e varreu o chão com outro pontapé, desequilibrando os que tinham desferido os primeiros ataques.
O líder do grupo aproximou-se dele pelas costas e preparou-se para lhe dar um soco na cabeça. Kuroi viu-o a tempo, mas não podia mover-se suficientemente depressa.
“Raios, não posso fazê-lo... não aqui...”
Sentiu o punho do adversário acertar-lhe na cara, mas pareceu-lhe estranhamente fraco. O líder do gang caiu no chão, inexpressivo, revelando o rapaz de cabelo claro atrás de si com uma tábua de madeira nas mãos e a tremer.
-...Obrigado. - Disse o mais velho. - Mas pensei que vos tinha dito para saírem daqui...
-Foste atacado para nos proteger. - Respondeu o outro. - Considera isto... um gesto de gratidão, ou algo parecido?
Kuroi não conseguiu conter um pequeno sorriso.
-Vamos sair daqui, o que iriam dizer se vissem uma delegada de turma juntamente com este arruaceiro? - Disse Sochin, de volta a si.
O seu irmão não sabia o que dizer.
-Vão-se embora, não quero ser o mau da fita aqui em vez destes falhados no chão. - Disse o jovem de cabelo castanho. - Já agora, o teu nome é...?
O mais novo pareceu hesitar por um segundo, até que respondeu:
-Kime Makoto. Estou no terceiro ano do Ciclo.
Depois disto, os dois irmãos afastaram-se até desaparecerem num cruzamento uns metros adiante. Só Makoto pareceu olhar para trás uma vez.
-...Acho que não assim tão maus miúdos afinal de contas. - Suspirou Kuroi. - Mas já não vale a pena continuar a evitar...
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